Argumento de autoridade
Um argumento de autoridade ocorre quando alguém como um cientista, um filósofo ou um centro de pesquisa é usado para justificar uma conclusão.
Um argumento de autoridade é aquele no qual citamos um especialista, autoridade em determinado assunto, para justificar uma conclusão. Esse pode ser um cientista, um filósofo, uma instituição de pesquisa entre outros. Considere o exemplo abaixo:
Segundo a pesquisa “A Epidemiologia do Uso de Arma como Autodefesa”, de David Hemenway, professor e pesquisador de Harvard, que ouviu 14 mil cidadãos norte-americanos que foram vítimas de criminosos entre 2007 e 2011, apenas 0,9% das vítimas usou uma arma para se defender. Portanto, são raros os casos em que pessoas usarão suas armas para se defender.
Esse é um argumento de autoridade, pois se justificou a conclusão citando uma autoridade no assunto, o professor Hemenway, pesquisador de Harvard.
Portanto, argumentos de autoridade funcionam assim: citamos a opinião de um terceiro, especialista no tema que estamos debatendo, para para justificar uma opinião que desejamos defender.
É importante notar que o conceito de “autoridade” usado nesse caso é diferente do conceito mais comum de “autoridade”. Quando falamos em autoridade, logo pensamos na polícia, no pai e na mãe, no professor e outras figuras de autoridade. Nesse caso, o conceito de autoridade está relacionado ao poder de dar ordens: autoridade é aquele que manda.
Mas quando falamos de argumento de autoridade, a autoridade em questão não é alguém que tem o poder de mandar, mas simplesmente um especialista de reconhecido mérito em dado campo de conhecimento. O professor David do nosso primeiro exemplo é uma autoridade nesse sentido. Nesse caso, estamos falando de autoridade cognitiva.
Avaliando um argumento de autoridade
Muito do que pensamos saber depende do que lemos e ouvimos em livros, na internet, na televisão. Acreditamos que é verdade não por um conhecimento direto, mas porque confiamos em uma certa autoridade no assunto. Por isso é importante diferenciar uma autoridade legítima, que merece confiança, de uma não legítima.
As fontes estão informadas?
A principal pergunta a fazer para avaliar se o argumento de autoridade é se as fontes estão informadas sobre o que falam.
Se você pesquisar no Google por “argumento a favor e contra a legalização da maconha” irá encontrar esse artigo. Um dos argumentos apresentados aí é o seguinte
Segundo Juan Pablo Rodríguez, jogador de futebol que já jogou na seleção do México, não deveríamos legalizar a maconha. Ele afirma que “não gostaria de utilizá-la, não é bom porque já existem muitos vícios; legalizá-la seria como uma catástrofe para o país. Não deixa de ser uma droga, independentemente do uso.”
Portanto, não deveríamos legalizar a maconha.
Esse é um bom argumento de autoridade?
Embora seja comum citar celebridades para promover uma ideia, é um uso falacioso de argumento de autoridade. O jogador não é um especialista em política de drogas, então não há nenhum motivo para levar sua opinião em conta. Ele não está melhor informado sobre esse tema do que uma pessoa comum.
Uma fonte informada não necessariamente é uma autoridade no sentido comum do termo. Compare os seguintes exemplos:
O diretor do Colégio Protásio Alves disse a pais e jornalistas que as aulas naquela escola promovem uma troca de ideias viva e livre.
Logo, as aulas no Colégio promovem uma troca de ideias viva e livre.
Os alunos do Colégio Protásio Alves afirmam que as aulas nessa escola não promoviam uma troca de ideias viva e livre.
Logo, as aulas no Colégio Protásio Alves raramente promovem uma troca de ideias viva e livre.
Qual dos exemplos anteriores é o argumento de autoridade com mais credibilidade?
Certamente é o segundo, já que os estudantes estão melhor informados do que o diretor a respeito do que ocorre dentro da sala de aula. Um diretor raramente assiste aulas para ver o que acontece dentro desse espaço. Ao contrário dos alunos, que o frequentam todos os dias.
As autoridades concordam?
Antes de acreditar em qualquer especialista, compare com outras fontes e veja se elas concordam em grande medida. Não faz sentido usar como autoridade uma fonte quando existem centenas de outras que discordam completamente.
Considere os seguintes exemplos (fictícios):
Uma pesquisa realizada na Universidade de Harvard mostrou que a pena de morte contribui para reduzir a violência.
Logo, a pena de morte contribui para a redução da violência.
Uma pesquisa realizada na Universidade de Stanford mostrou que a pena de morte não contribui para reduzir a violência.
Logo, a pena de morte não contribui para a redução da violência.
Diante de duas fontes contraditórias como essas, não faz sentido usar a autoridade de uma ou outra para estabelecer uma conclusão. Nesse caso, o adequado é fazer uma pesquisa ainda mais ampla é verificar se pelo menos a maioria das pesquisas concorda com um dos lados do debate. Caso persista desacordo completo, o correto é reconhecer que não há informação suficiente para adotar um lado em detrimento de outro.
Resumo
Resumindo o que foi dito sobre argumento de autoridade nesse texto:
- Um argumento de autoridade é aquele em que citamos um especialista para justificar nossa conclusão.
- “Autoridade” não alguém que tem poder de mandar, mas alguém que conhece bastante de um assunto.
- Em primeiro lugar, para avaliar um argumento de autoridade, é fundamental saber se a suposta autoridade é de fato um especialista ou tem condições de estar bem informada sobre o que diz.
- Em segundo lugar, ao usar ou acreditar em um argumento de autoridade, é importante verificar se a maioria dos especialistas na área não discorda sobre o assunto.
Referências e leitura adicional
Para conhecer mais sobre tipos de argumentos, veja os artigos Argumento dedutivo, Argumento indutivo e Argumento por analogia. Para uma análise mais aprofunda, sugerimos a leitura de Lógica Informal, um livro de Douglas Walton. Esse é o livro mais abrangente em português sobre o assunto e é ele que usamos como referência para a produção desse texto.
Douglas Walton. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.